O mundo aderiu as máscaras e tirou a venda dos olhos. Para quem já estuda e acompanha a chegada da revolução 4.0, sabe que o processo de transformação do mundo é um caminho sem volta e que já estava acontecendo desde muito antes da pandemia chegar. Ideias inovadoras, remodelações de processos e empresas, novas práticas e novas capacitações para ocupação de inusitados postos de trabalho, estão em pauta há tempos. A pandemia só acelerou algumas dessas inovações. O novo já estava à caminho, se infiltrando junto com a revolução tecnológica e mexendo com tudo na nossa vida. A questão é que perceber isso, acreditar nessas mudanças, para alguns, só era possível vivendo na pele. O tal de novo normal que tanto se fala, nada mais é do que um olhar mais atento as mudanças no mundo, com uso de tecnologia, inteligência artificial, automação de várias industrias e claro, um alerta sobre as relações sociais, seu valor e o quanto precisamos aprender sobre a verdadeira conexão entre as pessoas.
O trabalho remoto, coisa que não é tão novidade assim, chegou de forma rápida e imposta. Para a grande maioria o conforto de trabalhar em casa virou um grande desafio já que o espaço, precisou ser dividido com a família, os eletrodomésticos, os eletrônicos, os pets, todos e tudo funcionando ao mesmo tempo, competindo com sua concentração e raciocínio. Para outros, foi um grande obstáculo a ser ultrapassado entre trabalho e disciplina. Perguntas cerebrais estavam em suspensão: será férias? será trabalho? será um misto de tudo?
Estudo, trabalho, convivência intensa com a família também revelou surpresas para as emoções e o psicológico de outros tantos. A pandemia não separou casais, acelerou o processo de separação daqueles que já viviam a crise. A pandemia não casou ninguém, acelerou a vontade de ficar junto. A pandemia não estressou as relações mas, demostrou o quanto estamos intolerantes e inoperantes nas relações interpessoais. A pandemia não necessariamente faliu as empresas mas, acelerou o processo daquelas que já não estavam estruturadas e empurrou para perto do abismo, aquelas que de fato não conseguiram perdurar sobre suas reservas, isso é verdade. A inovação, o mundo 4.0 está acontecendo na mesma velocidade com que a pandemia veio. O que já estava acontecendo em outros países de maneira mais rápida, chegou aqui como necessidade. Entregas por drone, home office, espaços físicos reduzidos, crescimento das vendas digitais, empresas ágeis protagonizando resultados e expansão dos serviços de delivery para tudo o que se imagina, além é claro, de uma forma de consumir bem diferente, mas que também já era tendência. Estava tudo aí.
O segmento de saúde que até pouco tempo gerava uma dúvida sobre como seria possível aderir a inovação, é um dos que mais se atualiza. A tecnologia já vinha revolucionando o segmento de diagnóstico e até mesmo de cirurgias com robôs guiados para esta atividade, mas, soluções mais simples também vieram atender o momento atual. A prestação de serviço de saúde digital chegou. Médicos estão realizando consultas simples por vídeo chamada e laboratórios ampliaram seu serviço de coleta de exames em casa. Se o assunto é manter a saúde física em plena forma, as academias deram um salto. Quem não fez treinos completos usando o ambiente online? Até happy hours, shows musicais e bate papos se viabilizaram assim, nas plataformas digitais e webinar mundo afora.
Acho que nunca o mundo assistiu a tantas soluções e de forma tão rápida para promover praticidade. Também nunca se mostrou tanto a necessidade da inclusão ao mundo digital como agora. Para quem não tem esse alcance, passar por isso tudo não tem sido nada fácil. Para essas pessoas, a saudade se mantem em alta, a falta de acesso ao estudo excluiu quem não tem computador nem internet e as soluções práticas, inclusive de saúde, não encontraram esse público. Em suma, é fato que o mundo mudou e está mudando, mas continua igual para quem já não tinha o básico, que dirá, inovação. Revela-se uma janela ampliada de desigualdade em dimensão muito maior do que pensávamos, inclusive no mundo empresarial. Não há nada de tão novo, nem de normal nisso tudo. O mundo enfim tirou a venda dos olhos enquanto aderia as máscaras.
A velocidade da pandemia se encontra enfim com a necessidade da velocidade da inovação de forma ampla, para tudo e todos. Não é o novo normal é o curso natural de toda revolução, moldurado por uma pandemia que acelerou tudo. Será que conseguiremos viver o pós com diferenças ainda mais gritantes? Ou será que as máscaras vão cair e mostrar a verdadeira face da inovação, em um país onde a desigualdade cresce na velocidade de uma pandemia?